Era
uma vez um casal. Eram muito diferentes e em certo ponto das suas
vidas ela deserta da aldeia em que viviam e ele segue-a até
Nova Iorque a mando do conselho superior dessa mesma aldeia. A
história de amor destas duas pessoas é infinitamente
atrapalhada por todos aqueles que os rodeiam. Quando ele (Ichigo)
chega a Nova Iorque e procura por ela (Rukia/Kia) descobre que ela
tem um novo amor e que este homem começou a viver com ela
pouco tempo antes da sua chegada.
Rukia
e Ichigo haviam sido amantes. Ele amara-a durante anos até que
ela se desse ao incómodo de perceber e ainda mais tempo antes
que ela o aceitasse junto dela. Ela amara-o e ainda assim não
conseguia aceitar o que ele lhe fizera. Ela sabia que ele seria
sempre tudo para si mas ainda assim nunca conseguiria aceitar a forma
como ele a desiludira.
Ele
amava-a. Ainda que agora ela não estivesse perto dele. Ainda
que ela tivesse desertado da equipa ele continuava a amá-la
como no primeiro dia. Simplesmente não sabia o que faria se
ela morresse ou nunca mais o quisesse ver. Desde a deserção
dela e a sua desobediência ainda se tinham visto algumas vezes
mas desde há um ano que já não se viam. Ele
preocupava-se. Já achara que ela morrera mas perdera essa
sensação no dia em que o conselho o informara que ela
estivera em fuga mas fora localizada. Fizera pressão para
vê-la e tentara realmente ser ele a ficar com essa missão
mas essa foi-lhe sempre recusada até que o conselho verificou
que ela não ouviria nenhum dos outros e que se não
fosse ele a ir lá ela nunca regressaria. O conselho aceitou
bastante mal a sua decisão de ir rapidamente atrás dela
em vez de fazer como lhe fora indicado e esperar pelo momento que
eles considerassem mais propício.
Ele
decidiu-se a sair em missão. O conselho dissera-lhe para não
ir tão cedo mas ele fora por sua conta e risco. Julgava que
iria encontra-la numa cidade pequena onde não chamasse grandes
atenções mas ela fora infinitamente mais inteligente do
que ele pensara que ela seria. Encontrava-se numa grande cidade. Numa
cidade onde existiam vários milhares de pessoas e onde por
isso mesmo ela não seria tão facilmente reconhecível.
Depois de seguir várias pistas falsas conseguiu finalmente
encontra-la em Nova Iorque. Estava de momento a viver sozinha no topo
de um arranha-céus. Dera-se ao trabalho de encontrar um dojo e
de o comprar. Agora tinha o seu dojo privado e era gerente de um dojo
bastante afamado na baixa da cidade. Ao descobrir que a mulher que
amava se encontrava em Manhattan sozinha Ichigo sentiu-se tentado a
desertar e a ficar com ela. Dez minutos antes da sua entrada no avião
é informado que Rukia tem um namorado e que este se encontra a
viver na penthouse dela. Ichigo não acredita que isso seja
verdade e embarca na mesma, decidido a trazê-la ou a ficar com
ela. Ama-a apesar da incapacidade dela para acreditar na inocência
dele.
Chegado
a Nova Iorque começou a procurar as zonas por onde ela se
movia para tentar encontra-la e fazer com que regressasse com ele ao
Japão. Demorou alguns dias a ambientar-se à cidade e
mesmo após conhecer as zonas por onde ela se movia continuava
a não ter a certeza se havia feito a escolha certa ao ir ter
com ela. Ainda que não tivesse ido propriamente ter com ela
mas sim em missão para a tentar recuperar. Sentia-se como se o
seu mundo tivesse desabado no preciso momento em que saíra do
avião no aeroporto. De certa forma tinha razão, o seu
mundo não tinha propriamente desabado mas a forma como olhava
para ela desabara. Deixara de pensar nela como alguém rodeado
por um muro e por isso mesmo inatingível. Agora sabia que a
sua Kia era tão sensível e tocável como qualquer
outra pessoa. Tinha também a certeza de que nunca deixaria de
a amar. Com essa certeza chegou a insegurança no perdão
dela. Nunca viria a saber a realidade dos sentimentos de Kia mas
ainda assim nunca deixaria de a amar exactamente por ser quem era.
Após
descobrir as zonas por onde ela se movia mais vezes passou a seguir
os caminhos dela. Todos os dias se movia pelas ruas onde sabia que
ela iria passar. Todos os dias passava o tempo sentado em frente ao
dojo que ela geria a tentar arranjar coragem para a abordar
finalmente. Sonhava com o sorriso dela e com os seus cabelos negros.
Cada vez que a via tinha a certeza de a amar cada vez mais.
Rukia
viu-o. Olhou-o no meio da multidão que circulava naquela rua
tão movimentada e soube instantaneamente. Correu para longe
dele como se ele fosse um qualquer demónio que a perseguia.
Talvez Ichigo estivesse possuído por um qualquer demónio
daqueles que costumavam combater pensou Rukia. Assustou-se com o ar
apaixonado que viu estampado na cara dele e espantou-se a si mesma ao
não ter a mínima vontade de estar longe dele. Ainda que
aquele olhar dele a assustasse ela não se importava porque
estava com o homem que amava e a ela só isso é que lhe
importava. Sabia que não se podia aproximar dele e por isso
fugiu. Sabia o que ele lá estava a a fazer e também
sabia que não lhe queria ceder. Sabia que não queria
que ele a obrigasse a ir com ele de volta para a aldeia. Sabia que se
fosse seria castigada por ter desertado e por ter desobedecido a uma
ordem directa. Rukia não se podia dar ao luxo de cruzar o
olhar com o dele mais uma vez pois sabia que se o fizesse voltaria
para ele e nunca mais o deixaria. Por isso Rukia correu sem destino,
voltando cada esquina ao sabor do vento e deixando-se ir naquela
fúria de sobrevivência que a comandava contra o seu
querer.
Ela
vira-o. Ela fugia dele. Desde que se conheciam que ele a amava e
protegia e agora ela fugia dele. Nunca lhe conseguira escapar antes e
agora fugia dele. Não se cansava de repetir esta afirmação.
Não conseguia parar de pensar que esta era a sua realidade
agora. Nunca tinha realmente pensado que ela fugisse dele. Achara
realmente que ia conseguir fazer com que ela voltasse para a aldeia
sem ter de discutir com ela e quando ela fugira não quisera
realmente acreditar que fosse possível. Ichigo ficou perplexo
ao ver Kia fugir dele com todo aquele desespero nos passos. Sentia
que para ela cada passo era um suplício e que todos juntos
perfaziam a coisa mais difícil que já fizera na vida.
Sentia que Kia queria voltar para ele mas não se atrevia a
fazê-lo porque não tinha forças para contrariar
todo o conselho. Sabia que Kia tinha consciência que se
voltasse era bem possível que nem ele a conseguisse proteger.
Sabia que a queria voltar a ver e também que a queria para si.
Ele seria capaz de tudo para a ter consigo mais uma vez. Dava tudo
para a abraçar mais uma vez, para a tocar e a beijar só
mais uma vez. Depois disso podiam voltar e se ela tivesse de morrer
morreriam juntos.
Seguiu-a.
Guiou-se também ele pelo instinto e seguiu-a como se não
houvesse amanhã. Ela estacou e ele continuou atrás
dela. Rukia enveredou para um beco sem saída, encostou-se à
parede e esperou pela chegada dele. Ichigo chegou perto dela e não
tentou atacá-la mas sim abraçá-la. Rukia tentou
fugir e esquivou-se aos braços dele. Ichigo envolveu-a nos
seus braços contra a vontade dela. Rukia mexeu-se para se
esquivar e Ichigo envolveu-a mais e mais no seu abraço. Depois
de algum tempo Rukia aconchegou-se ao abraço dele e deitou a
cabeça no ombro dele. Nesse momento Ichigo moveu a cabeça
para a beijar e Rukia correspondeu. Após o beijo deixaram-se
ficar naquele torpor e abraçaram-se com mais força.
Passado algum tempo Ichigo ganhou coragem para falar e começou:
-
Tive tantas saudades tuas. Como pudeste passar um ano longe e nem
sequer escrever?
-
Não te podia escrever. Iam acabar por me descobrir e eu não
podia arriscar isso.
-
Descobriram-te na mesma. Que te custava escrever-me com um nome
falso?
-
Não podia arriscar a vida de todos aqueles que me ajudaram
durante este ano. Não podia deixar que o conselho descobrisse
que estava em contacto com humanos, também não podia
arriscar que descobrissem a nossa ligação afectiva e
ainda menos que querias seguir-me para longe deles.
-
Então recebeste as minhas cartas e mesmo assim ignoraste-me
durante um ano. Nunca esperei isso de ti Kia.
-
Eu também nunca esperei que fizesses à tua família
o que fizeste e não foi por isso que deixaste de o fazer.
Também nunca achei que pensasses que eu obedeceria ás
tuas ordens e foi exactamente isso que pensaste. Que te passou pela
cabeça para me denunciares ao conselho?
-
Eu não fiz à minha família aquilo que te fiz
acreditar que tinha feito. Na altura precisava que pensasses que sim
para poderes fugir sem te importares comigo mas agora posso dizer-te
que apenas fiz com que eles fugissem. Estão todos bem e
esperam por ti no exílio caso queiras segui-los. Não
esperava que obedecesses ás minhas ordens Kia, exactamente por
isso é que as dei. Não fui eu que te denunciei, não
conseguiria.
-
Se não fizeste mal à tua família não
precisavas de me fazer acreditar que tinhas feito. Sabes que podes
confiar em mim e como não confiaste eu senti-me ultrajada e
enganada. Já sabia que eles tinham apenas fugido, a tua irmã
contactou-me na altura em que eu fuji e depois disso temos mantido o
contacto. Não vou segui-los no exílio deles, mas também
não vou seguir-te de volta. Já que me encontraram vou
mudar de local e certificar-me que desta vez não me encontram.
Se sabias que não ia obedecer não tinhas dado ordens
nenhumas. Se não me denunciaste então porque foi que
disseste que tinhas sido tu?
-
Disse que tinha sido eu para tu não matares ninguém. Eu
amo-te demasiado para te fazer isso. Não te esqueças
que eu sabia o que fizeste e mesmo assim não disse nada –
Kia faz menção de responder mas cala-se. Ichigo
abraça-a.
-
Não fales mais Kia, não vale a pena. Chega de
conversas. Vamos voltar. O conselho espera-nos na aldeia.
-
Eu não vou voltar Ichigo. Nem penses nisso. Por mais
transtornada que esteja e por mais que te ame não volto. Nem
por ti faço esse esforço.
-
Chega Kia. Vens comigo e não reclamas mais.
-
Não vou. Deixa-me. - Kia foge.
-
Espera Kia. - Corre atrás dela.
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